sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O Poço das Lamentações

No meu bairro havia um poço. Era um poço igual a todos que eu já tinha visto, só que ele não possuía água alguma e as pessoas não extraiam nada dele, pelo contrário, os habitantes do meu bairro jogavam suas lamentações nele.

O poço das lamentações, como era conhecido, fora utilizado diversas vezes por mim, por amigos, conhecidos... Era um poço que, só ao se aproximar dele, já penetrava uma sensação pesada no coração, como se todas as lamentações e angústias do mundo estivessem naquele ambiente.

O lugar onde o poço foi instalado era vazio. As flores ao redor eram todas murchas, o solo era mais arenoso do que pó de milho, não havia qualquer tipo de vida nas redondezas, nem o menor dos insetos e, pode ser coisa da minha cabeça, mas parecia-me que quando eu chegava próximo ao poço o céu escurecia e um forte calafrio surgia em minha espinha.

Dentro do poço havia lamentações sobre entes queridos que morreram, amores perdidos, oportunidades não aproveitadas, brigas que acabaram mal e por aí vai.
Até que um dia, não me pergunte o porquê, esse poço explodiu. Uma forte nuvem negra pairou por todo o meu bairro e, repentinamente, todos sentiram uma forte tristeza dentro do peito. Acredito que o poço se saturou, já não cabia mais nem a menor das lamentações dentro dele.

Mas, e agora? Onde vou depositar minhas lamentações? Como conviver com todas essas angústias, decepções e tristezas que a vida me trouxe?

Foi aí que eu aprendi a discernir certas coisas da vida. É como se nós fossemos um trem operante e fossemos obrigados a parar em todas as estações para pegar os nossos passageiros. Alguns passageiros trariam para o trem alegria, amor e felicidade, enquanto outros vinham carregados de tristezas e lamentações. E o que fazer? Aprender a lidar com isso. As lamentações estão aí, na frente de nossos olhos, e poço nenhum as apaga de nossa vida e não há venda que bloqueie nossa visão por completo.

As lamentações, as decepções e as frustrações estão aí e não há o que fazer. Tem que lidar com isso meu caro. É difícil eu sei, mas tem que lidar.

14/01/11

9 comentários:

  1. E quem não aprende como lidar com as próprias lamentações não cresce. Ótimo texto.

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  2. Nossa, foda!! *-* Me senti na historia, mas eu jogava minhas mágoas em outros lugares :p

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  3. bota alegria ai tchê!
    shahsuahsahsu belas palavras meu caro

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  4. Muuuito bom!
    Me lembrou o livro do meu ídolo André Vianco chamado "O caminho do poço das lágrimas".

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  5. Rafa!!! Muito bom o texto!
    Fiquei até arrepiada quando li!

    Saudade de vc :)

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  6. Exatamente.
    Tem que aprender a lidar, senão você não cresce!
    E também tem que entender que não dá pra jogar todas as suas lamentações em nada, nem em ninguém... Se até o 'poço' saturou e explodiu, imagine o que aconteceria a uma pessoa?

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  7. Excelente o texto!

    Serviu de incentivo para a situação que estou passando.

    Abs.

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