segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Pianista

Adentro por esse espaço desconhecido com a pulsante curiosidade correndo ferozmente por minhas veias.

Espera, espera, espera... E eis que se inicia.

Surpresas, – a vida é uma velha e empoeirada caixa de surpresas – movimentos delicados e precisos por toda essa cinza esfera luminosa com leves oscilações em sua circunferência.

Apagam-se as luzes, botões começam a desabrochar. Surgem as rosas.

Meus pensamentos são esvaziados – assim como ocorrem nos comerciais do coelho branco – e toda a melodia por ti ressoada penetra impactantemente meus ouvidos e navega com forte emoção todo o meu corpo, com o meu coração como objetivo final.

E meus olhos... Os meus olhos – com lágrimas emotivas que eu, por bobagem minha, reluto em jorrar – lhe observam devotamente, sem ao menos piscá-los.

Vejo-lhe fechar os olhos e esboçar um leve sorriso de lábios cerrados. Permaneço aguardando inquieto por sua reação. Eis que, em poucas notas, os seus olhos se abrem e eu noto delicadas lágrimas – lágrimas as quais você também reluta em jorrar. E é nesse momento, é nesse exato momento que o relógio para de funcionar, tudo foi congelado. E foi assim que eu senti por todo o meu corpo essa forte ligação entre eu, você e toda a melodia que ressoava delicadamente – e bravamente - rumo ao nosso peito.

O gelo lentamente é derretido e o relógio volta a funcionar.

Quando eu menos espero você torna-se insano. A loucura apoderou-se do seu ser, a bela insanidade chegou.

Luzes, melodias, sorrisos, deslizar dos dedos, lágrimas relutantes, emoções e loucura.

O surto insano – que eu tanto admiro e compartilho – se encerra. Você desaparece desse plano por alguns instantes ao olhar minuciosamente por todos ao seu redor e deslizar os dedos suavemente por seus cabelos castanhos.

Volta ao plano.

Aplausos, gritos, devoções.

As luzes se apagam e você desaparece por esse espaço por mim ainda desconhecido. E eu, meu solitário eu, permanece aqui, a secretamente lhe escrever.

É Holden mais uma vez somos só nós dois. Só nós dois por todo esse vazio campo de centeio.

25/01/12

5 comentários:

  1. Vc escreve sendo tão intelectual que as vezes eu viajo aqui, haha.


    Larissa.

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  2. Quanto lirismo! Um dia todo este sentimento será canalizado em uma relação concreta e renderá muitos frutos e realizações
    grandiosas. Mas hoje eu percebo que trata-se de muita influência romântica e simbolista que sugere e não diz. Cada leitor sorve então o perfume lânguido que embriaga e confunde levando seus leitores a participar desta orgia poética!

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  3. AMEI! Simplesmente amei! A cena quase erótica do final é demais! Parabéns e continue sempre! Um abraço!!!

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  4. Rafael, gostei bastante do texto, tem muito elemento que eu considero sublime prum "tipo ideal" do gênero, e você não fez de forma escancarada, ta muito bem pensado, "encoberto" (não é o termo certo, mas é tipo isso). E eu adoro coisas que me lembram Stirner, rs.

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