terça-feira, 31 de julho de 2012

A Rosa


Percebo que não me conheço quando retorno bêbado e sozinho pra casa e começa a me dar um desespero em escrever. Mal consigo segurar a caneta, a letra sai mais torta e desengonçada do que já é e percebo que a senhora que sentou ao meu lado não para de observar-me com um olhar de curiosidade misturado com certa preocupação. Mas eis que as palavras, tortas, erradas e choradas acabam por sair.

Um idoso senhor negro com o seu chapéu adentra no vagão. Ele mal consegue permanecer de pé devido a sua idade e a todos os tombos que a vida já lhe deu. Assim, ele se senta no banquinho azul. Solitário, assim como eu, nossos olhares se encontram. Seu olhar, com um misto de sofrimento e benevolência acaba por domar o monstro da solidão em meu olhar. Já não me sinto mais completamente só.

“Filho, uma rosa de uma pétala só não é uma rosa.”

Uma rosa de uma só pétala não transmite a beleza da primavera.
Uma rosa de uma só pétala não é bela.
Uma rosa de uma só pétala é incompleta.
Uma rosa de uma só pétala não é uma rosa.

(...) presente (...)
(...) expectativas (...)
(...) possibilidades (...)
(...) futuro (...)

As pétalas floresceram. Agora a rosa é uma rosa.
Floresceram na rosa todas as pétalas.
A rosa agora se vê completa, com todas as suas pétalas.
As pétalas são o que faz da rosa uma rosa.

A rosa do pequeno príncipe.
A rosa que nasceu no concreto.
A rosa que dança todos os dias “Idioteque”.
A rosa que se libertou de seus próprios espinhos e abriu o seu coração para a vida.

 22/07/12

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